quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Helena:


...
olha, amor, tudo rachando
tudo a pique de ruir


olha que obra incompleta
abandonada, esquecida
olha o sonho carcomido
que esquecemos de sonhar
olha o filho que enjeitamos
o amor que não amamos
e os projetos sine die

olha as ilusões pisadas
quase tudo, quase nada
olha as tardes da colina
rolando de morro abaixo
olha o fogo distraído
se esquecendo de queimar
e os espinheiros que crescem
abafam
cobrem
florescem
suas flores desiguais
e esse cheiro de velório
que engole as damas-da-noite
e esse frio pela praia
os tapumes no caminho
a farpa entrando no pé

a alegria trancada a sete chaves
numa gaveta qualquer
e nós perdemos as chaves
uma a uma
Adelaide Amorim

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