quinta-feira, 29 de maio de 2008



Sandra Antonioli

Sobrevida
Cristina Lacerda

A terra não sorri
mas ampara meus passos


de hoje sofrer
me lembro do que é cíclico


os dias de chumbo
a lama do fundo
lamber a lembrança
de pequenos relâmpagos


sofrer sofreguidão
- só isso?


reinventar o mesmo
em tudo o que se ama


lembrar feridas
e perfumes dos momentos


essa minha curta longa vida
involuntária


é assim aos tropeços


e se há esquinas onde
às vezes me firo tanto


é porque é preciso
e se tateia na dor
o despertar da ânsia viva
vislumbre de algum
futuro encanto


o resto é concreto muro
cinza, rachado e duro


que o sonho


não está onde é sonhado
mas onde é pensado
com insistência e arte


esse o rito


içar a dor sombria
e se fazer ao mar


como alguém que ao ficar
finge que parte

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