AGORA FALANDO SÉRIO
Coisas (algumas poucas) de Chico Buarque
FALANDO SÈRIO
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobreo teu corpo
E duvidei...
E me arrastei
E te arranhei
E me agarrei
Nos teus cabelos
Nos teus pêlos
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho
Sem coberta
No tapete
Atráz da porta
Reclamei baixinho...
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome
Te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando, pelo avesso
Pra mostrar que 'inda' sou tua
Só pra provar que 'inda' sou tua...
Ah! Se já perdemos a noção da hora
E, juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah! Se ao te conhecer dei pra sonhar
Fiz tantos desvarios
Rompí com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde que 'inda' posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas que eu devo seguir...
Eu te vejo sumir por aí
Te avisei que a cidade era um vão
Da tua mão
Olha pora mim
Não faz assim
Não vá lá,não
...Cada clarão, é como um dia!
Quero ficar no teu corpo, como tatuagem
Que é pra te dar coragem, prá seguir viagem
Quando a noite vem
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina, salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos dos teus braços
Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva...
Agora falando sério
Eu queria não cantar a cantiga bonita
Que acredita
Que o mal espanta
Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar, driblar
Iludir
Tanto desencanto
Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio!


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