terça-feira, 10 de junho de 2008


Sandra Antonioli

REQUIEM

(ao José Amor e ao Gonçalo B. de Sousa)

Jorge Vicente



se eu morrer
atira-te do alto da paisagem
e procura um barco

não te preocupes com a bruma
ela seguir-te-á e tu olharás para
os seus segredos,

tentarás desvendá-los,
fecharás os olhos e
imaginarás que a tua fronte

estará coberta por uma mesa
de madeira,
com todas as coisas simples

que uma mesa de madeira guarda

ouvirás um grito claro
como se da noite caísse uma voz
imensa

com as árvores a tolher de surpresa
o repasto dos homens e dos bichos

são horas do anjo fechar a porta
e olhar a lareira já mortiça

os homens, esses, oferecem
o último pão do dia
e respondem que vai alta a noite

e que os viandantes são as últimas
estrelas do descampado

abrem a porta da rua e adormecem
com os olhos secos

a candeia vibra com o repouso
das estrelas silentes

assinalando a eternidade do caminho

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