sexta-feira, 9 de maio de 2008

SOLIDÃO NA DESESPERAÇÃO *** do mestre Pablo Neruda



A DESESPERAÇÃO

Os meus olhos, meu Deus!, se fecharam!
e de dor eu não sei onde estou.
É bem tarde. Já todos se foram
e na alma se me crava cruelmente a dor.
Onde olhar? Os meus olhos! Meus olhos!
Quem me afoga na boca esta voz?
Estou só, Senhor Deus, estou só
e não sinto o latejo do meu coração.
Quem me chama na sombra? Quem ouve
meus ladridos de raiva e de dor?
A impotência me esmaga. Não vêem!
Vem entretanto a negra desesperação.
A quem chamo, Senhor, a quem chamo?
É inútil que te chame a Ti!
E debalde destruo meus dedos
pois bem sei que à minh'alma Tu não hás de vir.
O silêncio! Este eterno silêncio!
Quem meus gritos irá responder?
Minhas vozes as levam os ventos,
e a mim me traga o abismo desta escuridão!

(Pablo Neruda - do livro: O Rio Invisível -
tradução: Rolando Roque da Silva)

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