domingo, 27 de abril de 2008

APÓS A CHUVA * Marferart

APÓS A CHUVA

Lembro que ventava forte em minha vida
As saias e as árvores festejavam a noite
Havia um sonho para ser sonhado
Não como sempre fora, mas desta vez acordado


Esfregava as mãos quando corri e atravessei a avenida
Garganta seca, a do barítono, areia na glote
Lá ia eu, voando, voando, arfado
Como o cavalo negro de asas rubras, alado

Lembro que fazia frio em minha alma
Tremia em gelo minha frágil esquerda mão
Tirei os sapatos e pisei no macio da areia
Meu lenço de cetim era para ela, pra sua ceia

Meus paços lentos, nas mãos a cílice tão garba
E o vinho escuro, crespo, para lavar o coração
Eu ali, crente, pronto para uma noite e meia
De deleite, entrega, amor perdido no emaranhado de tua teia

Veio a chuva, dolente e quente, colou meu corpo
Só tú não viestes, então dancei fértil, como um lobo louco que não se refreia
Em cio alegre que explode em grito, entregue a areia

Passou-se o tempo enquanto ouvi: “...eu te proponho.”
Pensei em teu corpo, onde de fato me encontro, louco
Eu sem relógio, vi a última estrela ir-se, ao longe, a me acenar
No acaso, por delirar, me fiz apalpar, acariciar, me embebedar

Que vinho amargo esse! Traz em si as agruras de um Chile em riste
Tentei na água o reflexo do rosto dela. Mas só havia o meu, triste
A onda levou a lágrima vermelha para o rumoroso mar
Quantas lágrimas já levou, dos que não puderam amar?

Que gosto amargo esse que a garganta insiste
Andei até o canal, catei conchas e pedrinhas que jamais vistes
Mas agora ergo a cabeça, não vou mais chorar

Afinal é um novo dia
e após a chuva, um novo sol vai raiar.

Aqui estou, até hoje, vivendo após a chuva.

1 Comentários:

Às 27 de abril de 2008 às 08:04 , Blogger sol pereira disse...

É verdade!

Após um dia ruim
Nem sempre é um mar de rosas,
Mas posso não sentir pena de mim!

 

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