APÓS A CHUVA * Marferart
APÓS A CHUVA
Lembro que ventava forte em minha vida
As saias e as árvores festejavam a noite
Havia um sonho para ser sonhado
Não como sempre fora, mas desta vez acordado
Esfregava as mãos quando corri e atravessei a avenida
Garganta seca, a do barítono, areia na glote
Lá ia eu, voando, voando, arfado
Como o cavalo negro de asas rubras, alado
Lembro que fazia frio em minha alma
Tremia em gelo minha frágil esquerda mão
Tirei os sapatos e pisei no macio da areia
Meu lenço de cetim era para ela, pra sua ceia
Meus paços lentos, nas mãos a cílice tão garba
E o vinho escuro, crespo, para lavar o coração
Eu ali, crente, pronto para uma noite e meia
De deleite, entrega, amor perdido no emaranhado de tua teia
Veio a chuva, dolente e quente, colou meu corpo
Só tú não viestes, então dancei fértil, como um lobo louco que não se refreia
Em cio alegre que explode em grito, entregue a areia
Passou-se o tempo enquanto ouvi: “...eu te proponho.”
Pensei em teu corpo, onde de fato me encontro, louco
Eu sem relógio, vi a última estrela ir-se, ao longe, a me acenar
No acaso, por delirar, me fiz apalpar, acariciar, me embebedar
Que vinho amargo esse! Traz em si as agruras de um Chile em riste
Tentei na água o reflexo do rosto dela. Mas só havia o meu, triste
A onda levou a lágrima vermelha para o rumoroso mar
Quantas lágrimas já levou, dos que não puderam amar?
Que gosto amargo esse que a garganta insiste
Andei até o canal, catei conchas e pedrinhas que jamais vistes
Mas agora ergo a cabeça, não vou mais chorar
Afinal é um novo dia
e após a chuva, um novo sol vai raiar.
Aqui estou, até hoje, vivendo após a chuva.



1 Comentários:
É verdade!
Após um dia ruim
Nem sempre é um mar de rosas,
Mas posso não sentir pena de mim!
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